RESILIÊNCIA EMPREENDEDORA: COMO ME LEVANTEI DAS MINHAS QUEDAS MAIS PROFUNDAS

 

Resolvi escrever uma série de artigos sobre empreendedorismo, resultados da minha jornada de vida. O primeiro da série é sobre a resiliência.

 

Resiliência não é apenas uma palavra bonita que aparece em livros de gestão. É a capacidade real de continuar caminhando quando tudo ao redor parece empurrar na direção contrária. É seguir em frente quando a vida te dobra, te pressiona, te desmonta, e ainda assim você decide levantar.

 

Minha trajetória empreendedora não foi linear, suave ou previsível. Não houve um único grande desafio, mas vários. E cada um deles exigiu uma força diferente, uma estratégia diferente, uma reconstrução emocional diferente. Mas olhando para trás, percebo algo fundamental: a resiliência não é um dom. É uma construção diária. É uma escolha. É um hábito.

 

A seguir, compartilho como essa característica se tornou o motor que manteve minha jornada viva, mesmo nos momentos em que eu achava que não teria forças para continuar.

 

1. A resiliência começa antes de empreender

Nasci em uma família simples, sem luxos, mas com valores sólidos. Meu pai militar e minha mãe dona de casa criaram quatro filhos com disciplina, ética e senso de responsabilidade. Passei nove anos no Colégio Militar, um ambiente que molda muito mais do que o desempenho acadêmico. Ele forma caráter. Forma firmeza. Forma foco. E foi ali que, sem perceber, eu comecei a desenvolver o que mais tarde seria essencial para enfrentar crises empresariais severas: a capacidade de resistir à pressão e manter a disciplina mesmo quando o corpo ou a mente queriam desistir.

 

No fim, a resiliência profissional sempre começa na vida pessoal.

 

2. Primeira queda: desafios familiares e empresariais simultâneos

Em 1994, nasceu meu segundo filho com uma má formação nos rins e ureter. O primeiro ano foi uma batalha diária: médicos, exames, cirurgias, incertezas, noites sem dormir. E tudo isso enquanto eu tentava manter vivo meu primeiro negócio, a Treinar, criada em 1993. Foi um ano difícil, mas consegui estabilizar a empresa e contornar as questões pessoais. No final de 1997, ainda sem grande experiência como empreendedor, resolvi expandir o negócio. O resultado é que depois de pouco mais de um ano, tive uma enorme queda de faturamento, obrigado a demitir pessoas, negociar com credores, endividamento crescendo e risco real de fechar as portas. Em 1999, a empresa já estava endividada, quase quebrando. E, simultaneamente, meu casamento chegou ao fim. Eu estava emocionalmente esgotado e financeiramente fragilizado. Morei nos fundos da empresa, literalmente. Não por escolha, mas por necessidade. Foi o pior momento da minha vida. E mesmo assim, todos os dias eu acordava, tomava um café simples, arrumava o que precisava ser arrumado e ia trabalhar, sem glamour, sem estabilidade, sem elogios. Não existe livro de negócios que prepare alguém para equilibrar os perrengues pessoais e uma empresa lutando pela sobrevivência.

 

Foi nesse momento que eu entendi que resiliência não é endurecer, mas aprender a continuar mesmo quebrado e quando ninguém está olhando.

 

3. O reencontro com a força interna e a reconstrução

Por mais improvável que parecesse, eu decidi não desistir. Comecei a fechar negócios novamente após um ano inteiro de esforço. Dois anos depois, já tinha virado o jogo: contratos importantes, filiais em São Paulo e no Rio de Janeiro, a empresa crescendo.

 

A resiliência tem um segredo: a dor passa, mas o resultado de quem não desiste permanece.

 

4. Segunda queda: novo declínio, dissolução societária e mudança radical

Em 2003, mais uma vez a empresa enfrentou um período crítico. Faturava, mas com um alto custo e problemas com a sociedade, não conseguia pagar as contas. Tive que me separar da sociedade e decidi mudar tudo: mudei de cidade, casei novamente, mudei de estado e transferi a empresa para Florianópolis. Mudanças radicais exigem coragem, mas exigem também resiliência para lidar com o desconhecido e reconstruir do zero.

 

E reconstruí.

 

5. O maior ano… e o maior desafio pessoal

Em 2004, vivi o melhor faturamento da história da empresa. Mas também foi o ano mais marcante da minha vida:
foi realizado o transplante de rim do meu segundo filho, e eu fui o doador. 
Esse episódio redefiniu completamente minha compreensão sobre força. A partir dali, tudo no mundo dos negócios ficou menor diante do que realmente importa.
 

E ao mesmo tempo, meu propósito ficou maior.

 

6. Terceira queda: novas crises, novos negócios, novos recomeços

A partir de 2008, as oscilações voltaram. O faturamento caiu. Tive que tentar novos negócios. Alguns funcionaram, outros não. Em 2009 e 2010, vieram contratos importantes novamente, mas o mercado mudou e precisei me reinventar. Foi quando voltei a Porto Alegre, lancei meu primeiro livro e comecei a dar palestras e treinamentos.

Depois vieram mais livros, mais mudanças, mais tentativas, nem todas bem-sucedidas. Em 2012, nasceu o meu quarto filho, o segundo do segundo casamento. Ele nasceu com uma doença rara, uma mutação genética que tem como consequências, atraso motor e cognitivo. E só conseguimos descobrir quando ele tinha 4 anos e no meio disto nasceu o meu quinto filho e a apreensão que também pudesse nascer com a mesma doença. Felizmente, não. Não sei se um dia, ele poderá falar, andar e fazer as coisas mais simples que todos fazemos, mas meu objetivo é dar todo o meu amor e proporcionar a melhor vida para ele. E como nada é só, em 2018, mais uma separação. Mais uma reconstrução emocional.

 

Mais uma prova de que cair faz parte, mas ficar caído é uma escolha.

 

7. A resiliência da inovação constante

A partir daí, precisava, novamente, me reinventar. Em 2020, enfrentamos a pandemia e todos os meus negócios foram afetados. Estava na hora de criar coisas novas. Criei junto com outros sócios a startup Flixpet, um aplicativo inovador que conecta o ecossistema pet. Depois, o Instituto Líder do Amanhã, que oferece cursos de liderança. Foram quatro anos dedicados integralmente à startup, enfrentando todos os desafios que um empreendedor de inovação conhece bem. Em 2025, resolvi focar, novamente, nos negócios do escritório virtual, montando o estúdio de podcast e um hub de serviços, bem como aos meus treinamentos e mentorias. A verdade é que, ao longo de 40 anos, nunca parei. Nunca deixei de tentar. Nunca aceitei que uma queda definisse o meu destino.

 

E isso explica a essência de tudo:

 

Resiliência não é voltar onde estava. É voltar maior, mais forte e mais consciente do próprio caminho.

 

8. O que aprendi com todas as minhas quedas

Se eu pudesse resumir em lições práticas, seriam estas:

 

1. Nenhuma crise dura para sempre. Mas pessoas resilientes duram.

2. Quando tudo desmoronar, continue trabalhando. O simples ato de continuar indo trabalhar salva empresas.

3. Resiliência não significa não sentir dor. Significa não deixar a dor decidir seu futuro.

4. Os maiores recomeços nascem dos piores dias. É onde buscamos saídas para curar nossa dor

5. O hábito de levantar é mais importante do que o medo de cair. Pois os hábitos é que levam aos nossos resultados

6. Sucesso é resistência. E resistência é caráter.

 

Conclusão

Minha história não é sobre vitórias fáceis. É uma narrativa real, cheia de imperfeições, quedas, erros, recomeços e reconstruções. Mas é também a prova viva de que quem não desiste, vence, cedo ou tarde. Resiliência é a habilidade que transforma vidas e negócios. E eu aprendi, às vezes da forma mais dura possível, que:

 

Não existe empreendedor bem-sucedido sem resiliência. Existe apenas o empreendedor que continua.